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linguas estralhas ou espirituais

linguas estralhas ou espirituais

Línguas Estranhas

por

Raniere Menezes




O movimento pentecostal sempre me chamou atenção pela ênfase que dá as línguas, embora eu possa estar sendo preconceituoso achando, injustamente, que no pentecostalismo eles só falam em “línguas estranhas”, do mesmo modo, como a maioria dos evangélicos pensa que a Igreja Reformada só fala em predestinação. Perdoe-me a insensibilidade.

Os “pregadores do fogo” , como eles gostam de ser chamados, são entusiastas curiosos de se observar. O que mais me impressiona, não é ficar com dúvidas teológicas se cessou ou não cessou o falar “em línguas”, mas não conseguir identificar os vocábulos como idioma que fluem dos pentecostais. Auditivamente, os sons parecem semelhantes entre si, como se fosse uma só língua – (mas, não são variedades de línguas?). - Do Norte ao Sul do país, os vocábulos são muito parecidos. Há uma variedade de estórias que já se falou em aramaico, hebraico, grego, árabe, enfim. E já houve quem “interpretasse” até em japonês sendo nordestino. Mas ninguém nunca gravou ou comprovou a veracidade de tais episódios. É sempre tudo muito parecido e “misterioso”.

Outro ponto que também me desperta a questionar é: baseado na pneumatologia pentecostal, o profeta (pregador) tem domínio sobre o “Espírito”, mas quando se vê um entusiasta pregar violentamente, eles intercalam os vocábulos estranhos como se fossem pontos, vírgulas e exclamações – esse é o padrão -, e de vez em quando, no meio de uma frase vem os vocábulos estranhos, como se fosse um tipo de interferência, sem um aparente domínio próprio do pregador, por que será? E outra: o pregador prega sem intérprete?

Acredito que todos nós já fizemos algumas observações semelhantes. Mas todas as nossas perguntas curiosas não levam a lugar nenhum se não focalizarmos o perigo central que os supostos dons extraordinários (línguas estranhas, profecias e revelações) traz a Igreja de Cristo: acreditar nesses dons hoje é desacreditar no SOLA SCRIPTURA! Não há como entender e acreditar nesses supostos dons de hoje separados do seu caráter original (lá em Atos) que érevelacional. As Santas Escrituras não se dissociam do Espírito Santo, e vice-versa. O Espírito Santo aponta para o VERBO, que é CRISTO, não é para dar “profetadas”.

Os dons extraordinários foram dados a Igreja em caráter REVELACIONAL, isso foi necessário para a Igreja Primitiva, mas hoje se transformou em nomenclatura pentescostal. Deus falou através desses sinais. Como está escrito em Hebreus: Havendo Deus, outrora, falado, muitas vezes e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, nestes últimos dias, nos falou pelo Filho...(Hb 1.1,2). Deus edificou e ensinou a Igreja Primitiva com os dons extraordinários porque faltavam as Escrituras completas como a temos hoje.

No prefácio do opúsculo escrito pelo Pr. Josafá Vasconcelos, sobre novas revelações hoje, há uma síntese muito esclarecedora, ele diz: “Esses dons eram, portanto absolutamente REVELATÓRIOS e exerceram uma função importantíssima numa hora específica da Igreja, que é chamado de momento escatológico dentro do plano de Deus para o seu povo, e que, após o fechamento do cânon das Escrituras, que é a PERFEITA REVELAÇÃO DE JESUS CRISTO dada por Deus aos homens, cessaram definitivamente”.[ênfase minha]. Este seu posicionamento está em pleno acordo com a Confissão de Westminster, exatamente na parte B, da Seção I, do Capítulo I, Da Sagrada Escritura:

“...portanto aprouve ao Senhor, em diversos tempos e diferentes formas, revelar-se e declarar à sua Igreja aquela sua vontade; e depois, para melhor preservação e propagação da verdade, para o mais seguro estabelecimento e conforto da Igreja contra a corrupção da carne e malícia de Satanás e do mundo, foi igualmente servido fazê-la escrever toda [ou entregou a mesma para que fosse plenamente escrita]. Isto torna indispensável a Escritura Sagrada, tendo cessado aqueles antigos modos de revelar Deus a sua vontade ao seu povo”. [negrito meu]. Ref. - I Cor. 1:21, e 2:13-14; Heb. 1:1-2; Luc. 1:3-4; Rom. 15:4; Mat. 4:4, 7, 10; Isa. 8: 20; I Tim. 3: I5; II Pedro 1: 19.

Negar isso é negar a SUFICIÊNCIA DAS ESCRITURAS! É dizer que a Bíblia não é perfeita regra de fé e prática. Aqueles que crêem em novas-revelações, Deus falando extrabíblia, está automaticamente negando o Sola Scriptura!

J.I.Packer, em Vocábulos de Deus, escreveu:

“As palavras não são mágicas. Elas são a matéria-prima da linguagem, são as ferramentas que Deus nos deu para formarmos conceitos e nos comunicarmos. As palavras transmitem sentidos, revelam mentes, evocam sentimentos e despertam pensamentos. A importância delas repousa na carga que transportam e nas tarefas que realizam”.

“(...) Precisamos saber claramente como perceber o que as palavras significam. As palavras significam o que costumam significar nos círculos lingüísticos particulares (nações, tribos, famílias, gangs, etc) que as usam. Dessa forma, elas recebem um sentido reconhecido publicamente, que os dicionários registram.(...)

“Nenhuma ciência, ou seja, nenhum ramo do conhecimento já comprovado e digerido, pode dispensar termos técnicos; tais termos são necessários para que haja precisão de pensamento e de expressão.

“Se não dispusesse de termos técnicos apropriados, a comunicação tornar-se-ia incontrolavelmente desajeitada, e dificilmente seria possível qualquer progresso na cristalização da verdade. Ora, isso é tão verdadeiro na teologia como na astrofísica ou na oftalmologia”.

Baseado nesse discernimento sóbrio e lógico, como podemos dizer que “cantalabachuria labacânta” é verdade, se nem inteligível é? E se fosse inteligível quem poderia anexar ao Cânon? Portanto, acreditar em vocábulos estranhos como sendo Palavra do Espírito Santo é dizer que a Bíblia não é perfeita! E ainda, como disse John Owen:

“Deus tem ciúme e não repartirá sua glória com ninguém; será objeto de maior arrogância e orgulho para um mero homem propor novas matérias de fé ou prática que não tenham sido reveladas por Deus na Sua Palavra”. Será por isso que há tanta competição “espiritual” no meio pentecostal?

Permita-me trazer a voz (não inspirada) de mais três defensores (em épocas distintas) da ortodoxia protestante:

“Quando Deus falou, Ele não resmungou. Deus falou de maneira clara e direta. Ele foi preciso, até mesmo na escolha das palavras, tempos verbais e na distinção entre o singular e o plural” (J. MacArthur Jr.).

“Fiz uma aliança com Deus: que Ele não me mande visões, nem sonhos, nem mesmo anjos. Estou satisfeito com o dom das Escrituras Sagradas, que me dão instrução abundante e tudo o que preciso conhecer tanto para esta vida quanto para a que há de vir” (M. Lutero).

“A Bíblia não é nada mais do que a voz dAquele que se assenta no trono. Cada livro, cada capítulo, cada sílaba, cada letra da Bíblia é pronunciamento direto do Altíssimo” (J.W. Burgon).

Porém, nada supera nem se iguala a estas Palavras:

No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus (João 1.1). Santifica-os na verdade; a tua palavra é a verdade (João 17.17).